A natureza sintética do Espiritismo, tão bem
destacada por Leon Denis, torna-se evidente no conceito de “fé raciocinada” que
Kardec incorporou ao pensamento espírita.
A visão dinâmica e livre pensadora oferecida
pelo Espiritismo nos convida enfaticamente a superar dialeticamente o conflito
entre a postura de submissão alienante do fideismo e a arrogância racionalista,
com aquilo que José Herculano Pires chamou de fideismo-crítico, ou seja, a
nossa fé raciocinada.
Analisando o aparente paradoxo desta
expressão na obra A Revolução da
Esperança, o psicanalista Erich Fromm diz que a fé é irracional quando é
submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira independentemente
de sê-lo ou não. O elemento essencial desta fé é o seu caráter passivo. Já a fé
racional refere-se ao conhecimento do real que ainda não nasceu; baseia-se na
capacidade de conhecimento e compreensão que penetra a superfície e vê o âmago.
A fé racional, continua ele, não é previsão do futuro; é a visão do presente
num estado de gravidez; é a certeza sobre a realidade da possibilidade.
Sintetizando o modo pelo qual o Espiritismo
aborda o problema da fé, poderíamos dizer, parafraseando Herbert Spencer, que “existe uma alma de razão nas coisas da
fé e uma alma de fé nas coisas da razão”.
Maurice H. Jones
Trecho de artigo divulgado em 2002